quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rua das Dez-ilusões.

Eu já passava a maioria dos meus dias sentada no velho sofá azul da sala, transbordado de restos de cinzas e um peculiar cheiro de vodca podre. Pelo apartamento só restava o vazio, aquelas paredes que me rodeavam pareciam gritar por atenção, mas eu não queira antendê-las. Eu podia sentir seus passos pela casa, mas já não podia sentíl-la mais, ela se fora. Ás vezes eu me levantava e dava uma volta pela rua das ilusões, era para lá que eu ia quando precisava de alguma coisa momentânea para acreditar, anjos, demônios, humanos. Mas acabava voltando ao velho sofá e não pensava, apenas me perdia em últimas gotas de whisky. Ouvia mais uma vez os passos, ela passava por mim, invisível, e tudo acelerava. Em pouco tempo seriamos meras desconhecidas em busca da redenção. Mas eu ainda podia sentir o coração dela acelerar em sintonia, é, mais uma volta pela rua das ilusões, eu poderia passar mais tempo por lá. Até o momento eu não saberia dizer a sintonia certa, éramos uma combinação intensa de auto-destruição e (im)pulsões, meu passa-tempo favorito. Eu me ocupava com devaneios e anfetaminas, apenas não conseguia esperar a hora certa em que tudo ia voltar a acelerar, se voltasse. Pela rua das ilusões, eu procurava o que havia restado, quando achava, corria para casa para poder guardá-lo, e guardei, e restou, mas ela já não mais se importava. Consuma até que não reste nada.