terça-feira, 4 de outubro de 2011

3 Estações.

Era para ser mais uma primavera comum naquela cidade, mas dessa vez parecia que as flores não queriam desabrochar nem tão pouco colorir. Eu tomava um café espreitando o cinza das ruas, quase que fobicamente. Aqueles padrões de não-cores me assustavam de tal intensidade que eu cobria meus olhos e ansiava por qualquer químico lisérgico que me faria mergulhar em aquarelas. Mas eu havia decretado hiatus dessas coisas e só me permitia algumas doses de destilados, porém estes não coloriam, só deixavam as coisas mais turvas no dia seguinte, maldito seja aquele dia seguinte. Saia com um cigarro na mão, sem acendê-lo, procurava me auto-enganar dizendo que o iria acender em breve. Sentava nos bancos bambos da praça, olhava a grama pisoteada, sem indícios de que ela seria verde de novo, me angustiava com pensamentos da existência efêmera de tudo; de como é necessário ter um nada para que se possa criar algo. E filosofava e poetizava em busca desse nada criador. Já haviam me falado que pessimistas não deveriam ler Nietzsche ou algo que o valha, mas eu teimosa, não enxergava o tal negativismo que todos viam nele. Enfim, me entediava da existência e voltava a caminhar com o cigarro apagado entre os dedos, tudo passava entre aqueles dedos, mas o cigarro ficava, estático, apagado. Ex-isto.