sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Platônico.

Alguém mais lúcido do que eu, do que nós todos, havia dito que estávamos em uma quinta-feira de março. Se era verdade ou não, ninguém soube dizer. Dih estava dando um festa para comemorar minha volta, tudo alí era motivo de celebrações, até a pior das desgraças. Eu poderia até acreditar que o fizeram quando parti. Havia tantas caras novas naquela casa que eu me perguntava por quanto tempo havia ficado fora. Doses de whisky e metadona mantiveram minha misantropia, reduzida em um canto vazio. Ao esvair da madrugada pude notar que havia vários casais, talvez a maioria até. Ou talvez eu apenas já estivesse tendo visões duplas e embaçadas, nunca se sabe. Havia uma menina em particular, particular. Eu saberia dizer que não havia outra dela, e que ela desembaçava. Ela não era como as outras pessoas dalí, na verdade, nem ao menos parecia pertencer a esses cantos, pelo menos não em meu canto. Ela parecia uma princesa, que poderia passar horas em frente ao espelho, ela espelhava nos vidros da cocaína. Conversava com gírias de muleques, interagia com todos, sorria sinceramente para todos, bebia por todos. E só tinha olhos para uma, não uma qualquer. Mas não era eu. A fitei por horas, sem esperar que ela interegisse, sorrise ou bebesse por mim. Eu só queria um olhar, aquele. E, naquele momento, eu só conseguia pensar nisso, em intervalos entre tragos e goles, me entorpecia apenas de olhá-la. Dih parecia vir de minuto em minuto, em tentativas fracassadas, me tirar daquele canto e me apresentar a alguns novos nomes para minhas paredes, mas por algum motivo não consegui sair dalí. A distância era um voyerismo. E eu esperava pelo (des)prazer daquele olhar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Por Enquanto.

Eu havia perdia a noção dos dias, das horas e dos nossos próprios passos. Tentávamos achar o caminho de casa, sem ao menos saber aonde estávamos. Latência. Precisávamos de mais algumas doses para conseguir voltar a pensar. Entramos em um pub cintilante, irônicamente em uma esquina escura e sinistra, extasiava. A primeira dose descia tão aveludada que chegava a fazer desenhos dentro de nossos corpos sedentos e abstinentes. Confortava. Havia uma loira vistosa sentada no balcão, que me encarava com avareza ou talvez encarasse minhas doses transbordantes que desapareciam em um piscar de olhos. Eu trocava tragos entre olhares. Nunca gostei muito de loiras, mas sempre acabava com uma. Era aquele velho ciclo vicioso de novo. Confortava. Entre momentos em flashes, eu acordei no dia seguinte ao lado dela. Eu já imaginava que isso iria acontecer, sempre acontecia. E mais uma vez, eu estava perdida em algum lugar daquela cidade que eu não lembrava. Perdida nas minhas memórias, ou na falta delas. Mas na verdade, eu nunca havia me achado por completo. Eu tentei sair sem que ela percebesse, e para não perder o costume das minhas rotinas, nunca o conseguia com sucesso. Minhas ressacas pareciam terem se acumulado e minha cabeça se tornara uma bomba-relógio. Ela se preocupou. Não me preocupo, não me culpo. Com alguns pontos de referências vagos, ela conseguiu me levar para casa. Ela sim parecia conhecer aquele inferno. Em segundos planos, eu havia me achado, descanse em paz.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Blues das Estradas.

Por dias seguidos nos entorpecemos com garrafas e mais garrafas daquela tequila vinda direto da terra da perdição, nos perdemos. Passávamos nossos restos de noite em casas de desconhecidos, que naquele ponto de nível alcoolico, haviam se tornados, por algumas horas, melhores companias. E eu, mais uma vez, nunca conseguia lembrar seus nomes quando acordava. Nos levantávamos, e num dinamismo incrível, tentávamos sair sem que ninguém nos notasse, sempre notavam. Andar sem cambalear era muito difícil. Inventávamos desculpas tolas para sair às pressas, crer era para poucos. E sem que percebessemos nosso dia já recomeçava embalado por canções do The Doors tocados em acordes desolados. Nunca voltávamos aos mesmos lugares, a idéia de ver aquelas mesmas pessoas era assustadora. Eu não conseguiria descrever a complexidade de cada um de nossos instantes alí, e eu começava a precisar das minhas paredes. Nossas fontes de insanidades foram de desvaindo e se perdendo em nossas mentes. Tentávamos contar os dias em tentativas fracassadas, mentes que mentem. Naquele ponto pensar se tornara um luxo para poucos, e nos guiávamos pelo cheiro de alcool etílico, nicotina, cocaina e desespero. Estávamos indo de volta para casa.