quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Leste.

Os faróis apontavam para o amanhecer e foi pelas sombras daquelas ruas que nos reencontramos. A minha canção materializada preferida, bárbara. Ela carregava um livro, debaixo dos braços, que falava sobre prostitutas e drogas, quanto a mim, eu carregava minha eterna garrafa de whisky barato. Estávamos na esquina certa, estávamos na intensidade certa. Eu já nem me importava mais com as depressões que as mudanças traziam. Ela sorria e vinha andando em minha direção, ela tinha uma fala mole, culpe as marihuanas escondidas em seu bolso. Trocamos algumas palavras, eu precisava ter certeza de que ela se lembrara de mim. As ironias começavam a aparecer. Nunca fui de ficar procurando pessoas, mas com ela, eu precisava, ela já me tinha feito cair em apenas algumas poucas horas. Ela não me dava muitas certezas, mas que se dane! A dúvida é apaixonante. Ela se mantinha a uma distância casual, casualidades costumavam a me cansar, mas não dessa vez. E eu começava a ter a impressão de que eu já a conhecia melhor do que ela fingia. Andamos a passos que se arrastavam até as escadarias do meu prédio, sentamos e eu ainda tentava enteder aqueles velhos casos sem finais, em vão. Após alguns goles no whisky, eu a fitei como se fosse a nossa última vez alí, ela como se estivesse lendo meus pensamentos, misturou um trago com um gole, e me disse:
- Querer não é poder, meu bem. - levantou-se, despediu-se com um beijo bem perto dos meus lábios e foi em direção ao nascer do Sol.
Bom, a vantagem de brincar com fogo, é que aprende-se a não se queimar. Eu tinha certeza que ainda a veria de novo por essas esquinas certas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Edifício São Jorge.

Antes de toda tempestade vem uma calmaria e eu podia senti-la chegando. Por algumas semanas passei da abstinência para a loucura, da loucura para a sanidade e da sanidade, de volta ao caos. Lá estava eu de novo, sentada na escadaria daquele prédio tombado, fumando um cigarro e arranhando alguns acordes no violão, foi quando ela chegou. Ela vestia roupas de verão e vinha sorrindo em direção a mim, pediu uma canção, sentou-se e acendeu um daqueles cigarros de palha que cheiravam a fim de festa, ela era como uma canção de fim de festa, aquela que você não quer deixar para trás. Ensaiamos uma conversa que não vingou, ela tinha problemas para contar um caso inteiro, eu não havia conseguido acompanhar nenhum até aquele ponto. Foi quando ela me ofereçeu um resto de marihuana que ela carregava para todos os cantos, eu que nunca fui muito fã de desacelerantes, desacelerei. Fumamos e nos afogamos em risos, há muito eu não sentia aquela sensação. A convidei para subir e ela negou, nada sutil. A essa altura eu já estava muito além de interessada. Ela prometeu uma próxima vez, mas eu conhecia aqueles tipos de promessas, sempre costumava a fazê-las. Ela despediu de mim, deixando aquele gosto de esperança, e eu que nunca tive esperança de nada, sucumbi. Subi aquela escadaria com um sorriso estampado no rosto. Me servi uma dose de tequilla, sentei no sofá surrado da sala e esperei. Dois dias depois, lá estava ela na escadaria, após o fim de uma festa, começaremos outra, com a mesma canção.