quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tom Waits.

Eu tentaria não usar clichês para descrever essa história, porém, eles respondem exatamente o que tanto questionamos, em vão, à filosofias profundas. Procurava palavras certas pra descrever tudo que acontecera em trinta e seis horas, mas elas não existiam em nenhum dicionário de nenhuma língua ou nem mesmo em nenhum livro de kama sutra. Poderia até começar com "era uma vez" para enfatizar quão mágico foi, porém preferi simplificar em uma catarse de sentimentos. Na volta de mais uma das minhas viagens eu havia escrito na última página do meu diário:
"O apelido dela já remetia a um vício, um dos meus preferidos, daqueles que fazem os olhos brilharem e o corpo suar. Havíamos esperado sete anos para a certeza de um encontro; esperar e esperar, estávamos destinadas a isso. A fitei com seus cabelos loiros de longe, acendi um cigarro para disfarçar a ansiedade e a abordei como se já fossemos intimas há tempos. No cumprimentamos, ainda que timidamente esboçávamos conversas de alívio de toda aquela ansiedade do encontro. Nos dirigimos ao bar mais próximo, catalisador social, eu precisava de uma boa dose de alguma coisa. E com apenas alguns minutos de conversa eu já sentia uma conexão incrível, indescritível, esqueça. Tudo o que eu queria naquele momento era lascar-lhe um beijo e aproveitar aquele nosso pouco tempo ao máximo. Porém não o fiz, não por timidez, mas por insegurança da reciprocidade. Após algumas horas de conversa voltamos ao quarto aonde eu me hospedava na Cidade de Cinzas. Fumamos, falamos, rimos, ela fumou. Não me aguentei e a beijei, por sorte, com reciprocidade. Depois disso as horas pareciam voar. Nossa rota parecia ser cama, janela, chuveiro e espelho. Nada além disso. Parecia que já fazíamos isso a muito tempo, e por algum motivo não conseguíamos parar de trepar, de nos tocar, de tirar e colocar nossas roupas. Toda vez que ela simulava ir embora, eu a segurava e a convencia de que ainda não era hora. Ela fumou, dormimos. E no dia seguinte tudo começava de novo, de novas formas, de novos ângulos. Multiplicidade de tudo. Quando a noite ia caindo, nos despedíamos com pesar, com tesão, com sentimentos que havíamos combinado que não poderiam existir. Existiram, ficaram."

A Negação da Condição Existencial.

O tempo na cidade me fazia esquecer dos meus textos, das poesias fugazes e das filosofias baratas. As horas me consumiam com pensamentos ansiosos, a bebida corroía meu estômago, meu corpo e minha mente. O prazer da embriaguez, aos poucos se transformava em pânico da ressaca. Latência; era o que me fazia acordar bem e querer acender a ponta de um cigarro, em ocasiões quase raras. Eu encarava os olhares nas ruas com medo, os passos apressados me faziam não querer sair de casa, apenas deitar na cama e esperar que aquilo tudo passasse, apressaram-se. As pessoas começavam a se preocupar com minhas reações de pânico e pareciam não acreditar que para toda ação existe uma consequência. Foi quando em uma conversa de bar, um mero conhecido me apresentou ao, que viria a ser meu novo melhor amigo, o Senhor Rivotril. Bença aos benzodiazepínicos, eu diria! A partir desse dia eu o levava para onde quer que fosse, como um amuleto, e de fato era. A ansiedade dava lugar a algumas gotas de prazer e todo aquele pavor social desaparecia , assim como os passos e as faces gananciosas que me fitavam pelas ruas. Pode parecer delirante, mas não; eu havia voltado a produzir no silêncio da madrugada e voltava, ao poucos, a aceitar a rotina que tanto me perturbava. Eu havia experienciado um conflito existencial que me levou a exaustão e tudo que o meu novo melhor amigo fazia era me reinserir de forma sutil ao circuito social que tanto prezam. Por um lado eu me sentia muito bem por conseguir voltar a fumar um cigarro inteiro e a beber com o prazer de saber que no dia seguinte eu não me sentiria tão isolada. Foram dois meses do inferno ao céu, e no fim de todo esse sufoco, tudo o que eu queria era reencontrar algumas pessoas, dar uma boa trepada, e esquecer de tudo o que se passara.

"As ilusões humanas provam que os homens não merecem nada melhor do que o esquecimento."