segunda-feira, 7 de junho de 2010

Por fora.

Com uma uma mochila surrada e alguns trocados no bolso entrei no primeiro ônibus que passou pela rodovia, em direção a lugar nenhum. Eu não sabia muito bem aonde chegaria, nem mesmo a que rota pertencia, e depois de duas horas, desci em um posto de gasolina onde pessoas iam e vinham o tempo todo, era muita humanidade para aquele momento de misantropia. Comprei uma garrafa de whisky e caminhei algumas milhas ao longo da estrada, onde, entrei, mais uma vez, no primeiro ônibus que passou. Eu já tinha meus destilados e meus livros anti-qualquer coisa, e não me importava com direções. Quando entediava, eu simplismente descia do ônibus e entrava em outro, até que me entediei de fazer isso e finalmente chegava a algum lugar. O sol aparecia no horizonte e ao descer do ônibus eu senti o frio subindo pelas minhas espinhas. É, eu definitivamente não estava mais naquele inferno. Apenas sorri, não precisava saber aonde estava. Coloquei minha mochila nas costas, acendi um cigarro que mal consegui fumar sem que minhas mãos congelassem. Andei um pouco e já conseguia ver certo movimento, mas sem toda aquela intensidade que eu havia me acostumado. Passei por uma praça onde experiencei a diversidade concentrada, haviam aqueles que liam, aqueles que cantavam, aqueles que rezavam, aqueles que beijavam, aqueles que pediram e aqueles que cederam. Era exatamente aonde eu deveria estar naquele momento. Sentei-me ao lado de uma garota que lia Allan Poe, ele me olhou de relance, e introduzi me apresentando. Ah, maldita rotina! Mas por ironia, ela não havia entendido uma única palavra do que eu disse, não por eu estar inqualificavelmente bêbada, mas por ela não ser dalí. Ou melhor, era exatamente eu que não era dalí. Foi quando percebi o quão longe estava de casa, então fiz uma aposta com meu próprio ego, eu já pagava para ver.