quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Trinta de Novembro.

As semanas inconsequentemente passavam, corriam e riam de mim. Eu permanecia viciosamente no ato de ir e vir e entorpecer e seguir. Quando chegava em casa, se chegasse em casa, me sentava e divagava em pensamentos. Eu tinha uma garota, que uma vez apostou que eu não a suportaria por tal tempo, e que num outro tempo já superávamos todas as expectativas que tínhamos para nós mesmas, ninguém poderia explicar. O seu nome, que se repetia nas minhas paredes, poderia, para os mais tendenciosos, escrever uma história. Ela vivia insistindo no talvez e por mais que eu tentasse, ela se recusava a me ver mais de umas poucas vezes por semana, talvez suficientes para ela, levando-se em conta o tanto que me considerava insuportável. Mas como nunca me contentei com o suficiente, eu insistia em mais, em vão, então, não me contentava com o não do olhar dela. Se ela dizia que não amava ninguém, eu me pegava, mais uma vez, derretendo naquele mesmo olhar. O que antes era um talvez, se tornava certeza daquele momento, que eu guardava durante toda a semana que corria por mim. Ela nunca apareceria nas escadarias do meu prédio, eu já sabia. Mas eu esperava pacientemente por um novo momento, havia de acontecer, por coincidência, destino ou vontade dela.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

En-vou-vendo.

Voltava aos poucos ao cotidiano do caos, a cidade suspirava rotina em meus ouvidos, eram aqueles mesmos lugares de sempre. Aprendi a procurar válvulas de escape em todos os momentos; respirava, meditava, tragava e recomeçava. Buscava essência até no que não era essencial, não para mim. Enquanto a cidade me envolvia, eu caminhava nos limiares. Se alguém me perguntasse se eu sabia o que estava fazendo, eu certamente diria que não. Mas, algo acontecia nesses limiares e eu sabia bem. Eu passei a me encontrar com aquela mesma menina que eu havia conhecido montanhas abaixo de um lugar bem longe dalí, e ainda após umas boas semanas, ela conseguia me fazer ter sentimentos que eu adorava. Foi então, que deliberadamente, ela estipulou um prazo de validade para o que tinhamos até aquele ponto:

- Dois mêses, e você não me aguentará mais. - ela afirmou com a maior certeza do mundo.

De fato, neste momento eu fiquei aliviada, pois mal sabia ela o quanto eu era insuportável. Propûs, quase que inocentemente, uma aposta. E como toda boa boêmia, ela aceitou, certa de que eu não a suportaria por tão longo periodo. Demos uns tragos, apertamos as mãos e selamos o acordo. Poucas horas depois, eu já tinha parado de contar. Ela já tinha me deixado de joelhos, e aquela aposta só fez acelerar o tempo ao nosso redor. Mas não tinhamos pressa, construíamos nossos instantes. Menina, me aguentará por quanto tempo?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No enquanto.

Eu, sentada nas pedras que cercavam aquela praia, deserta pela falta. Falta esta, que refletia os últimos raios de pôr-do-sol que eu veria por ali. Eu, caminhava inundando meus sapatos de areia, os passos tornavam-se mais pesados, mas era hora de partir. Me despedia dos segundos durante horas, me despedia das pessoas com o silêncio. Aos poucos me deslocava com dificuldade, minhas pernas se negavam a ir, não eram só minhas pernas. A noite caia e na minha mochila eu colecionava tudo que não podia levar. Era hora de comprar aquela garrafa etílica, velha companheira, e entrar no primeiro ônibus em direção à lugar nenhum, foi quando me flagrei voltando para casa. Quase vinte-quatro horas depois, tudo o que me divertiu na ida, me entediou e desacelerou o tempo na volta. Eu descia do terceiro ônibus, meio cambaleante de bebida, de estradas e de tempo. Tudo que eu precisava naquele momento era buscar as minhas saudades que deixei com algumas pessoas. Com um andar desorientado, tentei me orientar para o caminho certo, me perdi algumas boas vezes, mas depois de uma hora eu já espreitava aquela minha velha rua coberta de grafite e perdição, ali estava minha escadaria preferida. Tirei a mochila das costas, meu fardo. É, eu, estava de volta.

sábado, 7 de agosto de 2010

Olhos longínquos.

Eu caminhava errante pelas ruas quando a vi pela segunda vez. Ela estava sentada na escadaria de um prédio, sozinha, a ler o mesmo livro que Ted Bundy lera alguns anos antes de ser preso. Passei por ela e por algum motivo parei para indagar o que ela fazia alí tão tarde, normalmente eu não ligo para isso. Dessa vez, ela não foi nada vaga e me respondeu sorrindo, mesmo quando dava para notar que ela não estava muito feliz de estar alí. A chamei para acompanhar-me em uma caminhada, ela educadamente negou. É, talvez ela realmente não gostasse de mim. Nos despedimos e continuei minha caminhada na compania de um cigarro. No dia seguinte, acordei com alguem esmurrando minha janela, no primeiro andar de um sorrateiro prédio de tijolos velhos. Acordei em um pulo, tentando não cambalear e colocar uma blusa. Abri a porta, e lá estava ela, não sozinha, mas acompanhada de um amigo em comum. Nesta hora nem pensei no fato de meu cabelo estar meio Robert Smith e nem de minha calcinha estar aparecendo através da blusa. Acomodei-os no sutil sofá e ofereci uma cerveja, era tudo que eu tinha na geladeira, é um bom desjejum, eu diria. Conversavamos fluidamente e ela nos contava de seus namorados e de suas aventuras velejando pelo mundo, o que era intrigante, pois ela era ainda mais nova do que eu. Abrimos a primeira garrafa de vodca e ouviamos Cash e Stones enquanto nos desenrolavamos em conversas soltas e nos enrolavamos em coincidencias, que de tanta incidência, quase me faziam acreditar que era destino. E naquele ponto eu só esperava que eu não me apaixona-se por ela. Enfim, no final da noite, nos deitamos em minha cama, pois já era muito tarde para ir para casa, eu fitava-a com um olhar focado, apesar de bêbado. Ela se aproximou do meu corpo e deixou sua boca bem perto da minha e tudo que tive que fazer foi inclinar-me uns centimetros para frente, não havia como eu resistir. Eu poderia lidar com as consequencias no dia seguinte, mas deixa para o dia seguinte.

Montanhas abaixo.

Ás vesperas de completar dois meses que eu estava naquela cidade distante, agora não tão nova assim, eu já havia me fixado em um hostel e havia conhecido todos os tipos de pessoas, de todos os tipos de lugares; pessoas que me impressionavam de várias maneiras possíveis e impossíveis. Conheci mexicanos que não tomavam tequilla, russos que não bebiam vodca e japoneses que praticavam alcoolismo e promiscuidade. Não vim aqui para contar as histórias que decorreram nesse tempo, porque simplimente borraram-se na minha memória e deixaram só aquela sensação de que foi bom. E dessa vez eu não tinha ninguém para me lembrar no dia seguinte, estavam todos piores do que eu. Mas somos serem adaptáveis e nos adaptamos ao esquecimento. Eu costumava me sentir tão livre que às vezes procurava censuras e limites, mas não tinha jeito, ali se situava a minha verdadeira essência. Certa manhã, quando o Sol ainda apontava no topo das montanhas, coloquei uns shots de whisky no bolso da jaqueta, um maço de cigarro no bolso da calça e trilhei em direção à perdição. Cantava músicas de piratas Yo-Ho para descer a montanha em direção à praia, harmonizava minha mente e meu corpo. Chegando na praia, eu já podia ouvir um grupo de senhores nus que tocavam músicas do The Doors com instrumentos de verdade, eu respirava fundo para não deixar transparecer a exaltação de estar alí. Me sentei com um grupo de pessoas que ironicamente vinham do mesmo inferno do que eu, era uma grande incidência. Sentamos, bebemos, fumamos e transcendemos na vibração. Havia uma menina, que se mantinha a maior parte do tempo calada, ela não me olhava, apenas divagava na positividade daquele lugar. Me indagava sobre ela, e sempre que dirigia uma pergunta a ela, ela me devolvia respostas rispidas e vagas. Talvez, ela não havia ido com minha cara, pois eu estava demasiadamente falante e fumante, àquele ponto já não conseguia mais controlar minha excitação de estar ali. Deixava os limites e a censura serem exaladas para longe.
-Hey garota, acabo de me interessar por você.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Por fora.

Com uma uma mochila surrada e alguns trocados no bolso entrei no primeiro ônibus que passou pela rodovia, em direção a lugar nenhum. Eu não sabia muito bem aonde chegaria, nem mesmo a que rota pertencia, e depois de duas horas, desci em um posto de gasolina onde pessoas iam e vinham o tempo todo, era muita humanidade para aquele momento de misantropia. Comprei uma garrafa de whisky e caminhei algumas milhas ao longo da estrada, onde, entrei, mais uma vez, no primeiro ônibus que passou. Eu já tinha meus destilados e meus livros anti-qualquer coisa, e não me importava com direções. Quando entediava, eu simplismente descia do ônibus e entrava em outro, até que me entediei de fazer isso e finalmente chegava a algum lugar. O sol aparecia no horizonte e ao descer do ônibus eu senti o frio subindo pelas minhas espinhas. É, eu definitivamente não estava mais naquele inferno. Apenas sorri, não precisava saber aonde estava. Coloquei minha mochila nas costas, acendi um cigarro que mal consegui fumar sem que minhas mãos congelassem. Andei um pouco e já conseguia ver certo movimento, mas sem toda aquela intensidade que eu havia me acostumado. Passei por uma praça onde experiencei a diversidade concentrada, haviam aqueles que liam, aqueles que cantavam, aqueles que rezavam, aqueles que beijavam, aqueles que pediram e aqueles que cederam. Era exatamente aonde eu deveria estar naquele momento. Sentei-me ao lado de uma garota que lia Allan Poe, ele me olhou de relance, e introduzi me apresentando. Ah, maldita rotina! Mas por ironia, ela não havia entendido uma única palavra do que eu disse, não por eu estar inqualificavelmente bêbada, mas por ela não ser dalí. Ou melhor, era exatamente eu que não era dalí. Foi quando percebi o quão longe estava de casa, então fiz uma aposta com meu próprio ego, eu já pagava para ver.

sábado, 29 de maio de 2010

Uma canção de despedida.

Por desapego, me livrei de tudo que tinha e por livrar-me, consegui me sentir livre o suficiente para sair daquele lugar por um tempo. Sem dizer uma sequer palavra, eu colocava tudo aquilo que ainda me restava em uma mochila: alguns pedaços de roupas, pedaços de sentimentos, pedaços de saudades. E por alguns segundos eu conseguia sentir a presença de todos aqueles que eu conheci alí, implorando para que eu não desaparecesse. E por alguns segundos, eu quis não desaparecer. Havia uma garota, que sempre se deitava comigo e que, brincando, eu sabia que iria sentir falta dela. Eu conseguia sentí-la se importando. Brincamos por quase um ano, e enquanto todas passavam, ela ficava pacientemente. O que mais me intrigava era, que depois de todo aquele tempo ela ainda conseguia gostar de mim. Bom, nunca me achei uma pessoa para se gostar por mais de alguns mêses, eu estava sempre envolta em caos, incertezas e insanidades. Mas por algum motivo que o universo desconhece, ela estava alí, e eu iria sentir falta de acordar naquele meu velho mau humor matinal, ao lado dela. Deixava em uma mesa de bar, meu adeus. Não foi bem do jeito que eu queria fazê-lo, mas por circunstancias duvidosas, o fiz, bem superficial. Então, deixei minhas saudades com ela, ela poderia sentir.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Desapego.

Andava errante pelas noites da cidade, vagava passante, rodava devagar. Havia encontrado, em meios caminhos andados, um templo budista, onde passei a frequentar quase todos os dias, nas primeiras horas de sanidade, pois era necessário estar um pouco sã para buscar uma paz, que até então, não havia encontrado naquele lugar. Eu entrava por uma estreita porta com escritos que eu não conseguia compreender, em passo a passo eu tirava meu tênis, meu maço, minhas chaves e meu cantil transbordado de destilado, os deixava. Sentava no fino acolchoado de frente para uma estátua indiana que brilhava mais que o Sol que nascia lá fora. Em menos de alguns minutos eu já trasncendia, aceitava todas as mutações que mudavam a cada segundo, e simplismente, aceitava e sentia. Era meu momento de redenção. Saia de lá, cada vez com menos preocupações, e eu que já não me apegava tanto, me desapeguei completamente de tudo. A cada vez que eu chegava em casa, me livrava de algo que havia guardado, até mesmo sentimentos, encantos e desencantos. Não era uma questão de desinteresse, nem de indiferença, como costumava a ser antes, era algo que gerava uma liberdade da qual nunca havia experimentado antes, era a liberdade de permitir que as coisas passasem, era a iluminação necessária para os vagabundos daquele inferno, ou a menos, para mim. Lembrava sempre que um hábito não é uma necessidade, os deixava.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aquela que sempre ia embora.

Por algumas semanas a fio, me engraçei com uma certa morena radiante, que eu havia conhecido em ocasião que não conseguia me recordar, mas sabia que de alguma forma já a tinha notado algumas vezes, ela já havia passado por mim e até mesmo sentado em mesmas mesas de bar para trocar doses de destilados. Tinhamos alguns conhecidos em comum e depois de alguns dias acabei me encantando por ela. Caminhávamos por aquele centro nublado e todas aquelas pessoas que passavam com pressa ao nosso redor, não nos apressava. Começamos com casualidades, ela não costumava a demonstrar muito interesse e nossos interesses em comum eram entorpecentes e sexo, parecia a combinação perfeita. Mas fomos mais além, ela me encantava de um jeito que eu não conseguia acreditar, e eu ainda era adepta ao recalque. Quando nos encontrávamos, até o resto de cocaina parecia tentador, ou era apenas culpa dos excessos, mas eu já não ligava mais para o que era excessivo. Mas os riscos eram falhos, tanto quanto eu. Eu não queria deixá-la, mas ela tinha pressa ao amanhecer, desaparecia como cinzas de cigarro barato, e eu a pensava durante quase todo o resto do dia. Talvez ela não me aturasse durante muito tempo, e eu ainda era adepta ao silêncio. Eu sentava naquele sofá, buscava as doses que ainda me restavam e a esperava voltar, mas ela nem sempre o fazia. Sinta vontade de ficar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quando elas não queriam ir embora.

Enfim eu havia superado todo meu ceticismo e desilusões corriqueiras e aos poucos conseguia me re-erguer, eu dividia a maior parte do meu tempo entre bares e minha casa. Ia para qualquer bar com cadeiras tortas, paredes tortas, sorrisos tortos, bebia doses e mais doses de qualquer coisa e acabava cambaleando para casa com alguém entre meus braços, era aquela velha história de sempre, e eu estava sempre muito entorpecida para lembrar. A cada dia que passava eu acordava ao lado de uma garota diferente: loira, morena, ruiva, careca, rosa-choque e por aí vai...Ao primeiro abrir de olhos eu tentava me perguntar como elas haviam parado alí, mas após um tempo parei de questionar esses acontecimentos, eram muito frequentes e só tomava mais meu tempo pensar nisso. Após uns breves minutos de silêncio, eu, com enorme esforço, me levantava daquela cama e as deixava dormindo alí, eu olhava para as paredes de meu quarto e via rabiscos, nomes, desenhos, telefones, endereços, o problema era só identificá-los, raras as ocasiões que consegui. Eu cambaleava até a sala, sentava no meu velho companheiro sofá e acendia um cigarro, ás vezes esbarrava em Jullie fazendo a mesma coisa. Neste tempo eu havia adquirido um péssimo hábito de acordar cedo, e ás vezes, esperava horas até que as garotas acordassem. Eu as fitava do meu sofá, rodeada de cinzas e fumaça que pairava no meu silêncio, elas me olhavam como crianças que secretamente olham para as mães em busca de aprovação e eu continuava lá pairada, parada, sobre o silêncio. Elas costumavam a rondar pelo apartamento, fumar alguns cigarros, propor umas doses de bebida, bom, isso eu já não conseguia negar. E ficavam. Ficavam. Ficavam. Jullie soltava risos sarcásticos em direção a elas, mas ninguém alí parecia se incomodar. O apartamento confortava, ou era apenas vontade de ficar. Quando eu já não mais aguentava, pegava meu maço de cigarros amassados, dizia que ia comprar mais, e só voltava no dia seguinte. Não tenha pressa.