quarta-feira, 8 de junho de 2011

Borderline.

Eu tinha um pedaço de mim que possuía instabilidade emocional, sempre se despedaçava por tempos em tempos. Me amava incondicionalmente em um dia e no outro se consumia de rancor, nem mesmo importava o que eu havia feito, os motivos eram sempre diferentes. Ás vezes eu saia pelas escadarias do velho edifício catando pedaços, ás vezes passava dias procurando, ela esvaia facilmente. Mas o sentimento de abandono batia rapidamente e refletia na campainha da minha porta. Trazia consigo problemas sem soluções para ocupar minha cabeça, tomar meu tempo e me consumir para sumir em alguns dias, me culpando pela falta de solução. Por mais passional que fosse a ilusão da saudade, passava em pouco tempo. Aquele pedaço se desprendia e arrumava outros corpos para passar os dias, para depois retornar buscando conforto de arrependimentos , sem culpa, me culpa. Entorpecida, dormia entre meus braços e acordava murmurando histórias passadas, dizendo que precisava de ir embora, tomava um café e acendia um filtro vermelho. Se confortava no sofá e voltava a murmurar sobre como nos fazíamos mal. Dizia que me ama, um beijo, tchau.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Escambo.

Minha vida seguia ao ritmo do blues, enquanto tudo desabava ao meu redor, eu viajava de norte a sul assobiando músicas que ficaram no passado. Naquele momento eu havia optado pela solidão. O problema de confiar nas pessoas é que não se deve confiar nas pessoas. Relações inter-pessoais já não eram um bom negócio naquela cidade e eu mantinha o mínimo de contato com o mínimo do que havia restado. Decepções me levaram ao desprendimento e não havia nada que poderia me manter ali. Com a mochila nas costas e uma garrafa em punhos, a caminhada pelo asfalto era longa. Conhecia uma meia dúzia de pessoas ao longo das estradas e passava noites em claro em festas de fraternidade que não tinham hora para acabar: "até o último homem em pé" diziam os cartazes pelas salas. E não demorava para acontecer, em menos de vinte e quatro horas não havia mais ninguém para contar história, nem eu, logo, não contarei. Ao final do fim de semana, me via obrigada a voltar para juntar mais alguns trocados para as próximas estradas. Existia em pensamentos existenciais, seria o preço da liberdade? Minha liberdade por alguns trocados. Eu troco.