segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ensaio sobre a Finitude.

Ultimamente tenho escutado várias pessoas falando sobre o efêmero e o finito, às vezes sem qualquer distinção, às vezes sem qualquer ponto final. Se a finitude é efêmera, destitui-se o sentido da consciência do fim, destitui-se o sentido, o sentir, o ser-finito. O efêmero como algo que passa, torna-se enfermo, angustiante e incompleto. A finitude é poética, ela existe em todos nós, e permite-nos fazer o que quisermos dela, com ela, e para ela. O que morre, não necessariamente passa, e de alguma forma marca nossa existência. E não falo somente da morte física, mas a morte de um sentido, de um sentimento, de um ciclo. Costumam-se realizar rituais de passagens e ressurreições afim de garantir que a finitude seja preservada no infinito metafísico, pois é muito dolorido acreditar que não existe nada antes, nada depois, apenas, tudo durante. Tive que ter várias experiências com o fim, com o efêmero, com a saudade e com a falta, para que pudesse pensar a finitude de maneira positiva e além disso, viver a finitude de maneira leve e saudável. E não digo saudável de uma forma normativa, mas no sentido do que te faz bem. Ironicamente, saúde no latim significa salvação, conservação da vida. É, senão, encantador, pensar que a consciência da finitude é uma maneira saudável de existir; conservar a vida para prolongar o fim. Enquanto isso, para tudo aquilo que já se findou dentro da minha existência finita, ficam as lembranças, as histórias, o aprendizado, e quiçá a falta. Poderia até falar em saudades, mas acredito que ela só exista quando é reciproca, se limitando ao que morre. Resta, então, somente a consciência e o sentimento de falta, de vazio, sendo, portanto, mais cruel. Porém, não se pode esquecer, é que do vazio que se re-cria, que não limita à incompletude, que pode ser nada, mas também pode ser tudo. O vazio em si é infinito de possibilidades. 

Em memória à Lygia de Castro Lustosa. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sem Hemingway.

Essa não é só mais uma história de amor, na verdade, o que sinto é poesia. Não sei fazer poesia, mas aprendi a senti-la no cotidiano com aquela mulher, éramos poesia. Tentei escrever algumas palavras para descrever tal relação, mas nem um haikai saiu, também não fiquei surpresa, palavras pareciam muito objetivas para qualquer um de nossos momentos, só éramos boas com palavras na cama, palavras de cama, sacanas. Ela era uma apreciadora das artes, me ensinara a desenhar sensações, esboçar afetos, me incomodar com as incertezas. Mas eu não soube contá-la que eu já não gostava tanto dessas incertezas, parecia que tínhamos nos acomodado à isso depois de tanto tempo nos equilibrando sobre uma corda bamba, parecia algo circense. Não nos desgastamos com o tempo, nem desistimos, só nos confundimos com palavras, incertezas e talvez um pouco de lisérgico. Recomendaram a distância, o insistente tempo, além de mais uma temporada fugindo dos sentimentos que, sem perceber, ficavam ali na mochila com a qual eu viajava. Há sempre um pedaço de quem se gosta em qualquer lugar que esteja, e de fato, tinha. Não apenas um pedaço, mas todo um inteiro. Pensei em voltar, mandar cartas ou talvez um pergaminho através do mar, mas não tive coragem, ela parecia ter gostado das incertezas e das minhas confusões assintomáticas. Ela lá e eu do outro lado, e ainda a sentia dentro de mim, essa certeza ela tinha, eu poderia apostar nisso. A esse ponto, o que eu mais gostava na despedida era a possibilidade de retorno. Somos poesia.