terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aquela que sempre ia embora.

Por algumas semanas a fio, me engraçei com uma certa morena radiante, que eu havia conhecido em ocasião que não conseguia me recordar, mas sabia que de alguma forma já a tinha notado algumas vezes, ela já havia passado por mim e até mesmo sentado em mesmas mesas de bar para trocar doses de destilados. Tinhamos alguns conhecidos em comum e depois de alguns dias acabei me encantando por ela. Caminhávamos por aquele centro nublado e todas aquelas pessoas que passavam com pressa ao nosso redor, não nos apressava. Começamos com casualidades, ela não costumava a demonstrar muito interesse e nossos interesses em comum eram entorpecentes e sexo, parecia a combinação perfeita. Mas fomos mais além, ela me encantava de um jeito que eu não conseguia acreditar, e eu ainda era adepta ao recalque. Quando nos encontrávamos, até o resto de cocaina parecia tentador, ou era apenas culpa dos excessos, mas eu já não ligava mais para o que era excessivo. Mas os riscos eram falhos, tanto quanto eu. Eu não queria deixá-la, mas ela tinha pressa ao amanhecer, desaparecia como cinzas de cigarro barato, e eu a pensava durante quase todo o resto do dia. Talvez ela não me aturasse durante muito tempo, e eu ainda era adepta ao silêncio. Eu sentava naquele sofá, buscava as doses que ainda me restavam e a esperava voltar, mas ela nem sempre o fazia. Sinta vontade de ficar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quando elas não queriam ir embora.

Enfim eu havia superado todo meu ceticismo e desilusões corriqueiras e aos poucos conseguia me re-erguer, eu dividia a maior parte do meu tempo entre bares e minha casa. Ia para qualquer bar com cadeiras tortas, paredes tortas, sorrisos tortos, bebia doses e mais doses de qualquer coisa e acabava cambaleando para casa com alguém entre meus braços, era aquela velha história de sempre, e eu estava sempre muito entorpecida para lembrar. A cada dia que passava eu acordava ao lado de uma garota diferente: loira, morena, ruiva, careca, rosa-choque e por aí vai...Ao primeiro abrir de olhos eu tentava me perguntar como elas haviam parado alí, mas após um tempo parei de questionar esses acontecimentos, eram muito frequentes e só tomava mais meu tempo pensar nisso. Após uns breves minutos de silêncio, eu, com enorme esforço, me levantava daquela cama e as deixava dormindo alí, eu olhava para as paredes de meu quarto e via rabiscos, nomes, desenhos, telefones, endereços, o problema era só identificá-los, raras as ocasiões que consegui. Eu cambaleava até a sala, sentava no meu velho companheiro sofá e acendia um cigarro, ás vezes esbarrava em Jullie fazendo a mesma coisa. Neste tempo eu havia adquirido um péssimo hábito de acordar cedo, e ás vezes, esperava horas até que as garotas acordassem. Eu as fitava do meu sofá, rodeada de cinzas e fumaça que pairava no meu silêncio, elas me olhavam como crianças que secretamente olham para as mães em busca de aprovação e eu continuava lá pairada, parada, sobre o silêncio. Elas costumavam a rondar pelo apartamento, fumar alguns cigarros, propor umas doses de bebida, bom, isso eu já não conseguia negar. E ficavam. Ficavam. Ficavam. Jullie soltava risos sarcásticos em direção a elas, mas ninguém alí parecia se incomodar. O apartamento confortava, ou era apenas vontade de ficar. Quando eu já não mais aguentava, pegava meu maço de cigarros amassados, dizia que ia comprar mais, e só voltava no dia seguinte. Não tenha pressa.