Sempre me disseram que para beber vodca você tinha que ser
forte. Prontamente me lembrei daqueles russos de quase dois metros de altura e
especialmente daquelas russas em que eu precisava ficar na ponta do pé para
beijá-las, e, além disso elas poderiam
me pegar no colo e me carregar por milhas, e não era culpa da vodca. Eu já
tinha uma política diferente, e pensava que não era necessário beber vodca
durante um dia inteiro, era apenas necessário beber até que se atingisse o
auge; o entorpecimento da vodca. Para alguns, o ápice chegava com duas doses, mas
para mim era preciso de mais cinco delas e lá estava eu, mais uma vez, correndo
pelas ruas e falando besteiras, não do tipo de besteira que se diz quando
entorpecida de cervejas. Eram besteiras sinceras, que você nunca teria coragem
de dizer a ninguém enquanto caminhava no
horizonte da sobriedade. Eu falava sobre amores passados que ainda pulsavam em
meu peito, falava sobre artimanhas sexuais
e ainda, sobre desejos soberbos que nunca haviam emergido antes. E lá estava eu bêbada com doses de vodca
pura, cowboy, mais uma, sei não.
Eu adorava conhecer
aqueles que se diziam grandes bebedores, eu os batia em duas ou três doses a
mais. E eu não precisava ter dois metros para parecer forte, eu só tinha um e
sessenta de altura, e ás vezes precisava andar nas pontas dos pés. Era fácil
até o topo, eu aprendia e desaprendia a dançar em menos de duas horas, aprendia
a conversar em outras línguas e acima de tudo aprendia a suportar a ignorância humana
que tanto me incomodava durante momentos de redenção. Que se destile a vodca
no meu corpo, o mundo parecia entorpecer ao dançar comigo, e no dia seguinte eu
ainda teria a certeza de que de nada iria lembrar.