quarta-feira, 10 de março de 2010

Desapego.

Andava errante pelas noites da cidade, vagava passante, rodava devagar. Havia encontrado, em meios caminhos andados, um templo budista, onde passei a frequentar quase todos os dias, nas primeiras horas de sanidade, pois era necessário estar um pouco sã para buscar uma paz, que até então, não havia encontrado naquele lugar. Eu entrava por uma estreita porta com escritos que eu não conseguia compreender, em passo a passo eu tirava meu tênis, meu maço, minhas chaves e meu cantil transbordado de destilado, os deixava. Sentava no fino acolchoado de frente para uma estátua indiana que brilhava mais que o Sol que nascia lá fora. Em menos de alguns minutos eu já trasncendia, aceitava todas as mutações que mudavam a cada segundo, e simplismente, aceitava e sentia. Era meu momento de redenção. Saia de lá, cada vez com menos preocupações, e eu que já não me apegava tanto, me desapeguei completamente de tudo. A cada vez que eu chegava em casa, me livrava de algo que havia guardado, até mesmo sentimentos, encantos e desencantos. Não era uma questão de desinteresse, nem de indiferença, como costumava a ser antes, era algo que gerava uma liberdade da qual nunca havia experimentado antes, era a liberdade de permitir que as coisas passasem, era a iluminação necessária para os vagabundos daquele inferno, ou a menos, para mim. Lembrava sempre que um hábito não é uma necessidade, os deixava.