sábado, 7 de agosto de 2010

Olhos longínquos.

Eu caminhava errante pelas ruas quando a vi pela segunda vez. Ela estava sentada na escadaria de um prédio, sozinha, a ler o mesmo livro que Ted Bundy lera alguns anos antes de ser preso. Passei por ela e por algum motivo parei para indagar o que ela fazia alí tão tarde, normalmente eu não ligo para isso. Dessa vez, ela não foi nada vaga e me respondeu sorrindo, mesmo quando dava para notar que ela não estava muito feliz de estar alí. A chamei para acompanhar-me em uma caminhada, ela educadamente negou. É, talvez ela realmente não gostasse de mim. Nos despedimos e continuei minha caminhada na compania de um cigarro. No dia seguinte, acordei com alguem esmurrando minha janela, no primeiro andar de um sorrateiro prédio de tijolos velhos. Acordei em um pulo, tentando não cambalear e colocar uma blusa. Abri a porta, e lá estava ela, não sozinha, mas acompanhada de um amigo em comum. Nesta hora nem pensei no fato de meu cabelo estar meio Robert Smith e nem de minha calcinha estar aparecendo através da blusa. Acomodei-os no sutil sofá e ofereci uma cerveja, era tudo que eu tinha na geladeira, é um bom desjejum, eu diria. Conversavamos fluidamente e ela nos contava de seus namorados e de suas aventuras velejando pelo mundo, o que era intrigante, pois ela era ainda mais nova do que eu. Abrimos a primeira garrafa de vodca e ouviamos Cash e Stones enquanto nos desenrolavamos em conversas soltas e nos enrolavamos em coincidencias, que de tanta incidência, quase me faziam acreditar que era destino. E naquele ponto eu só esperava que eu não me apaixona-se por ela. Enfim, no final da noite, nos deitamos em minha cama, pois já era muito tarde para ir para casa, eu fitava-a com um olhar focado, apesar de bêbado. Ela se aproximou do meu corpo e deixou sua boca bem perto da minha e tudo que tive que fazer foi inclinar-me uns centimetros para frente, não havia como eu resistir. Eu poderia lidar com as consequencias no dia seguinte, mas deixa para o dia seguinte.

Montanhas abaixo.

Ás vesperas de completar dois meses que eu estava naquela cidade distante, agora não tão nova assim, eu já havia me fixado em um hostel e havia conhecido todos os tipos de pessoas, de todos os tipos de lugares; pessoas que me impressionavam de várias maneiras possíveis e impossíveis. Conheci mexicanos que não tomavam tequilla, russos que não bebiam vodca e japoneses que praticavam alcoolismo e promiscuidade. Não vim aqui para contar as histórias que decorreram nesse tempo, porque simplimente borraram-se na minha memória e deixaram só aquela sensação de que foi bom. E dessa vez eu não tinha ninguém para me lembrar no dia seguinte, estavam todos piores do que eu. Mas somos serem adaptáveis e nos adaptamos ao esquecimento. Eu costumava me sentir tão livre que às vezes procurava censuras e limites, mas não tinha jeito, ali se situava a minha verdadeira essência. Certa manhã, quando o Sol ainda apontava no topo das montanhas, coloquei uns shots de whisky no bolso da jaqueta, um maço de cigarro no bolso da calça e trilhei em direção à perdição. Cantava músicas de piratas Yo-Ho para descer a montanha em direção à praia, harmonizava minha mente e meu corpo. Chegando na praia, eu já podia ouvir um grupo de senhores nus que tocavam músicas do The Doors com instrumentos de verdade, eu respirava fundo para não deixar transparecer a exaltação de estar alí. Me sentei com um grupo de pessoas que ironicamente vinham do mesmo inferno do que eu, era uma grande incidência. Sentamos, bebemos, fumamos e transcendemos na vibração. Havia uma menina, que se mantinha a maior parte do tempo calada, ela não me olhava, apenas divagava na positividade daquele lugar. Me indagava sobre ela, e sempre que dirigia uma pergunta a ela, ela me devolvia respostas rispidas e vagas. Talvez, ela não havia ido com minha cara, pois eu estava demasiadamente falante e fumante, àquele ponto já não conseguia mais controlar minha excitação de estar ali. Deixava os limites e a censura serem exaladas para longe.
-Hey garota, acabo de me interessar por você.