domingo, 20 de novembro de 2011

Anti-Qualquer Coisa.

Recebi uma vez uma receita para o esquecimento. Já tinha para mim que o segredo era um porre atrás do outro; assim se esquecia de tudo o que fazia doer. Mas em uma tarde nublada, enquanto andava pela calçada estreita, me vi questionada sobre a formula do esquecimento, e eu, que ainda pensava em amores passados, me interessei. "Se interesse pelo próximo cadáver que aparecer" dizia a bula; mas continuava: "contra indicado para os que acreditam em amor". E continuava a ler aquela receita impaciente: "50 ml após um desperdício", e eram tantos desperdícios. Sentava no degrau e fumava um cigarro refletindo sobre tudo o que havia passado, e principalmente, sobre tudo o que tinha restado, e era pouco, quase o suficiente para uma dose de qualquer uma. Essa seria a receita perfeita, uma outra pessoa para esquecer aquele amor, e funcionou, até certo tempo. Por mais que a amnésia tomasse conta da minhas lembranças, o que pairava era uma saudade do que nunca iria acontecer. A receita era simples: "use de qualquer um, abuse de qualquer coisa", fácil, ousei desafiar. Sobre a eficácia, até hoje não sei dizer, na bula não dizia nada sobre conciliá-lo com boas doses de álcool, e viva o esquecimento.