quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sem Hemingway.

Essa não é só mais uma história de amor, na verdade, o que sinto é poesia. Não sei fazer poesia, mas aprendi a senti-la no cotidiano com aquela mulher, éramos poesia. Tentei escrever algumas palavras para descrever tal relação, mas nem um haikai saiu, também não fiquei surpresa, palavras pareciam muito objetivas para qualquer um de nossos momentos, só éramos boas com palavras na cama, palavras de cama, sacanas. Ela era uma apreciadora das artes, me ensinara a desenhar sensações, esboçar afetos, me incomodar com as incertezas. Mas eu não soube contá-la que eu já não gostava tanto dessas incertezas, parecia que tínhamos nos acomodado à isso depois de tanto tempo nos equilibrando sobre uma corda bamba, parecia algo circense. Não nos desgastamos com o tempo, nem desistimos, só nos confundimos com palavras, incertezas e talvez um pouco de lisérgico. Recomendaram a distância, o insistente tempo, além de mais uma temporada fugindo dos sentimentos que, sem perceber, ficavam ali na mochila com a qual eu viajava. Há sempre um pedaço de quem se gosta em qualquer lugar que esteja, e de fato, tinha. Não apenas um pedaço, mas todo um inteiro. Pensei em voltar, mandar cartas ou talvez um pergaminho através do mar, mas não tive coragem, ela parecia ter gostado das incertezas e das minhas confusões assintomáticas. Ela lá e eu do outro lado, e ainda a sentia dentro de mim, essa certeza ela tinha, eu poderia apostar nisso. A esse ponto, o que eu mais gostava na despedida era a possibilidade de retorno. Somos poesia. 

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