quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Todo coração é uma célula revolucionária.

Ainda não era primavera, mas todos os acontecimentos que começavam a vir a tona indicavam que sim. As ruas da cidade estavam tomadas por um enxame de pessoas, o despertar de um silêncio velado por tantos anos. Falavam sobre uma nova geração de jovens que resolveram se livrar da maquiagem de cidadão inerte, ajustado, conformado. Incorporavam a revolução francesa com o aclame de liberté, egalité e fraternité ao se apoiar sobre os diferentes monumentos políticos que silenciavam a cidade. Os grandes líderes do governo tremiam diante de suas varandas blindadas e no legislativo, pichações e intervenções artísticas zombavam do atual esquema de falsa democracia. Ao cair da noite, a força opressora calava canções de paz, com bombas de guerra, e assim começava o conflito que a grande mídia chamaria de vandalismo. Eu chamo de vândalos com armas de borrachas, vândalos com gás lacrimogênio, vândalos com fardas. Em quilômetros de distância podia-se ouvir os estouros, os passos assustados, os rostos cobertos que não queriam ser calados. A multidão dispersada não cansava e voltava a se reunir no dia que se seguia, no mesmo campo de concentração, cercados em todos os lados por policiais farpados. O embate era certeiro, já que eram impedidos de reivindicar o que tinham direito.  As luzes das ruas davam lugar à nuvem de fumaça, ao cinza, à lápide para uma geração que um dia acordou. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário