quarta-feira, 11 de junho de 2008

Abstinências.

Por dias e noites nos acabavamos entre alucinógenos e entorpecentes. E por setenta e duas horas seguidas ninguém nem nem sequer conseguia fechar os olhos por mais de alguns instantes, não dava condições e as condições não se davam. Pelo carpete do apartamento havia copos, comprimidos, vidros, restos de cigarros e restos de pessoas. Enquanto as últimas gotas de whisky eram consumidas pelos olhares de avareza e cobiça, a juventude alí estagnada ia, aos poucos, sucumbindo. Nossos heróis se rendiam às ultimas picadas, nossos cigarros se apagavam no silêncio que ia pairando sobre cada um de nós. Tente voltar a si. Quem sou eu? Aos poucos nossos corpos se rendiam ás condições, ou a falta delas. E por mais setenta e duas horas, dormimos. A abstinência veio como um furacão, eu sonhava com ondas coloridas e êxtaseantes, quando abria os olhos me via tremendo dos pés à cabeça. Fechava os olhos e via, mais uma vez, todas aquelas cores que eram tão fortes que causava dor. Meu corpo se mantinha rígido e eu suava e gritava, não suava de frio, não gritava de dor, mas pedia por uma redenção. Jullie, que mal conseguia se manter em pé, me jogou embaixo do chuveiro e se encostou no vaso para se apoiar e espreitar minha tentativa de me manter embaixo daquela água gelada. As gotas caiam particulares sobre mim, eu podia sentir e até contar cada uma delas. E foi sobre o reconforto delas que eu consegui dormir em paz. Na manhã seguinte aquela velha morbidez, ressaca de cigarros, ressaca das doses, ressaca dos destilados, ressaca das distorções, ressaca das abstinências, ressaca de seres humanos. Eu me rendo.

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