sexta-feira, 13 de junho de 2008

Jogo de palavras.

Era mais uma daquelas noites de sexta feira e eu ardia e suava atrás do balcão do bar. Aquela noite era uma das mais frias que eu já havia experienciado, maldito inverno que congelava até as entranhas. Todos estava vestidos e revestidos com casacos de couro falsos, fazendo a pinta de rockstar, ilusões que esquentam a mente e disfarçam o frio. Nem mesmo as groupies que sempre andavam atrás dos roqueiros falídos conseguiram colocar aquela velha mini-saia provocante. Ninguém provocava. As doses de tequila evaporavam como água no deserto. No barril restava apenas mais algumas doses e os olhares sedentos por algum tipo de desvio para a alma, me fitavam. Mas eu fitava a canditada a primeira da fila. Era uma morena alta, com curvas inacreditáveis, cabelos longos e uma boca que hipnotizava. Me hipnotizou. Sim, ela era linda. Mas não foi só isso que me chamou atenção, eu já tinha muitas mulheres lindas nas minhas paredes, ela, de fato, poderia ser mais uma. Fixei meu olhar nela, por ela ser a única que não refletia aquela noite sóbria e gélida. Ela usava roupas cintilantes e estampava um sorriso no rosto, era uma das últimas que ainda conseguia sorrir. Ela parecia não saber o que estava fazendo alí, mas eu também nunca soube. Puxei uma conversa inocente, sem me preocupar com a crescente fila que se formava atrás dela. Ela, para meu alívio e economia de palavras, era do tipo falante. Uma boa falante. Para minha surpresa, aquela morena compartilhava do mesmo nome do que eu. Talvez fosse a única coisa que tinhámos em comum, era como olhar para um espelho e ver meu oposto, até hétero ela me disse ser. Eu gosto de héteros, eu gosto de perversões, eu gosto de opostos. Tudo se a-trai.

2 comentários:

  1. cada vez melhor o que voce escreve, morena.

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  2. Acho que seu dom de escrever e conseguir fazer com que o leitor seja capaz de imaginar tudo, até os mínimos detalhes, é o que deixa seus 'relatos' tão singulares. Adoro!

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