segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Paralelos.

Domingo em fim de noite, eu contava cada segundo da minha última noite de trabalho antes de tirar minhas tão aclamadas férias, enfim um intervalo para a viciante rotina. A banda que alí tocava me devia mais uma última música, os amplificadores estavam mais sonoros e beijos nos bastidores enalteciam meus últimos momentos de redenção alí. Ao colocar meus dois pés para fora daquele lugar pude respirar fundo, a ponto de sentir o peso dos meus pulmões, estranho alívio. Eu estava em terra de zumbis, e ás duas horas da manhã, as ruas transbordavam de amarguras e arrependimentos. Eu caminhava e enquanto isso traçava um paralelo entre aquela cidade e minhas mãos, que pareciam não envelhecer nunca. Entre elas havia um mundo de coisas, e todas essas coisas no meu mundo me faziam pensar em ir embora. Porém, ir embora era a pior coisa que eu parecia poder fazer, essas coisas ainda valiam a pena. Eu precisava de novos ares, novas experiências, novos lugares para depositar minhas alucinações, rotinas me cansavam. Tentei caminhar para casa, mas acabei me perdendo entre bebidas e mulheres, mais uma vez. As páginas do meu diário continuavam vazias enquanto os nomes nas minhas paredes já não cabiam em si. Acordei no dia seguinte, mais uma vez ao lado de uma morena que eu parecia nem reconhecer, elas sempre pareciam muito. Juntei meus trocados do que restara do meu último pagamento, coloquei a guitarra nas costas e peguei a garrafa de whisky barato em cima da mesa. Eu precisava conhecer o outro lado do inferno.


Jullie,
não esqueça de pagar as contas do mês,
estou tirando férias, trarei presentes.
Mantenha nossas paredes cheias,
tragos de whisky e goles de cigarros,
Lorena.
17/02/1988

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