terça-feira, 27 de outubro de 2015

Resiliência.

Há muito que eu não pego este velho caderno e rascunho palavras sobre alguma coisa qualquer. Minha alma adoeceu e já não sentia e nem tinha sentido. Achei este caderno esses dias, debaixo de uma pilha de angustias e ansiedades e sem que percebesse, me vi fazendo uma faxina a fim de achar tudo aquilo que estava perdido ou desaparecido naquela bagunça física e psíquica. A minha própria casa estava um caos, não tinha nada em seu lugar, e quando digo isso, é porque não estavam nem onde costumavam a ficar na bagunça com que eu estava acostumada, era a bagunça da minha bagunça. Hora nenhuma me acamei ou percebi tudo isso acontecendo, quando dei por mim, estava alí buscando coisas que já não existiam mais. Não sei como cheguei a isso, mas lá estava eu rodeada de guimbas, garrafas vazias e minha mais nova fonte de prazer momentâneo; os remédios tarja preta. Eram muitos, de tudo, e acabavam rápido. Ás vezes os estava fumando, os estava bebendo, confundindo cigarro com amitriptilina, whisky com rivotril. Fazia bem, não, fazia dormir, não, fazia não sentir. Mas aqui estou eu, sentada no sofá remendado da sala, fumando um cigarro (nicotina que não é amitriptilina) e olhando para os detalhes da sala, coisas que eu nunca havia reparado, como um quadro que uma moça havia me presenteado com detalhes do meu corpo, eu jamais havia me visto naquela pintura. E não só na pintura, mas em toda casa. Eu estou aqui, me vejo aqui. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário