quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Metarmofose

A hermenêutica é algo que sempre me encantou, é tão poética nossa particularidade de sentidos e interpretações que muitas vezes excedemos nossas próprias expectativas ou percepções ao outro, e seguramente vamos nos frustar frente à constatação de que fulano não sente ou se mobiliza como eu. Por isso gosto de olhar as pessoas como poesia, como inspiração, como estranhas a mim. Estranheza poética, o que é estranho é diferente, e o que é diferente causa curiosidade. Gosto de romantizar o caos, mas confesso que tem alguns que fogem à minha capacidade de poeta da sarjeta. Tem outros que se poetizam por si, como a história de uma garota que conhecia há tempos e sempre tive uma queda por ela, mas ela nunca me deu muita bola, então eu me contentava apenas em contemplá-la em sua poesia. Ela tinha o corpo coberto por tatuagens que rimavam com ela, uma em especial, me chamava atenção por ter a forma de um labirinto, que também tinha forma de uma borboleta e  que também tinha a forma da panturrilha dela. Não era o labirinto de Joyce, era algo menos complexo, risonho, simples. Eu pegava a caneta e me abaixava para desenhar caminhos de uma ponta a outra, e mesmo sempre achando a saída de primeira, eu prolongava caminhos mais longos quando na verdade só queria me perder ali e continuar desenhando por todo seu corpo. Ela era uma mulher baixinha, magrinha e careca, andava pelas ruas enrolando seu cigarro de maconha e dançando músicas do gueto, poderia bem ser uma personagem de qualquer livro de Kerouac. Pois veja bem como é a hermenêutica, eu a via como poesia e ela me via como caos.  

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