terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sem limites.

Era tempo de cotidiano e os acontecimentos seguiam àquela rotina perturbadora que tanto me assombrava. Eu acordava cedo, de ressaca, escrevia algumas palavras ao vento, soltava alguns termos infelizes, acendia um cigarro e me encolhia no sofá com dores no fígado. Algumas pessoas passavam por mim e me mandavam parar de beber tanto, e se eu não estivesse beirando o alcoolismo, talvez as ouviria. Naquele ponto minha saúde física era só um detalhe e eu me confortava em doses de qualquer coisa. Passava o dia achando explicações em canções e acordes, ás vezes esboçava algumas composições, mas só saberia falar do caos. Quando a noite caia eu tirava forças da abstinência e me levantava em direção ao bar mais próximo, me juntava a poucos bons amigos, que eu desconfio que também dançavam no limítrofe alcoolista, e passávamos a madrugada falando besteiras e trocando flertes com as garotas que ali ficavam. Eu poderia conhecer uma dúzia de pessoas durante a bebedeira, que no dia seguinte não lembraria sequer de suas feições, só reconheceria quando acordasse com alguém do meu lado, e era aquela mesma história de sempre, o esforço do re-conhecimento:

- Aceita um café? - eu disfarçava amnésia com amistosidade.
- Sem açucar, por favor.
- Dormiu bem?
- Pouco, mas bem.
- Hum... - e vinha o silencio do desconhecimento.
- É Ana, caso você não se lembre.
- Ora, você acha que eu esqueceria?
- Você se lembra?
- Claro, Ana. Vamos voltar para a cama.
- Okay. - e ela parecia saber o caminho para o quarto melhor do que eu.



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