domingo, 16 de março de 2008

Jullie

Jullie era uma garota com seus 16 para 17 anos, contruídos sobre uma inocência perdida. A primeira vez que eu a vi, tinha 2 dias que eu havia chegado naquela cidade infernal e eu vagava em busca de cigarros, destilados e punk-rock. Ela não era como as outras que se escondiam atrás de uma maquiagem mal feita. Nossos olhares se cruzaram entre entorpecentes e ceticismo, e pareceu como se o mundo houvesse parado para testemunhar aquele encontro auto-destruitivo. Os olhares ao se cruzarem abriram um universo próprio, sobre acordes de guitarras, sobre garrafas quebradas, sobre uma libertinagem surreal. Eu pedi um cigarro, ela pediu o fogo.

- O que você faz aqui? - perguntou.
- Não faço idéia. - respondi.
- Eu também não. - retrucou.

Com mais uma garrafa de whisky na mão, caminhamos a noite inteira e falamos merdas. E nas primeiras horas do amanhecer, estávamos no suburbio mais junkie que eu já havia visto. Em um apartamento aparentemente abandonado, em um prédio de portões maçisos e paredes pichadas, que tudo começou. Ela perguntou quanto eu tinha no bolso, e com algumas notas parcialmente rasgadas e amassadas e uma longa conversa com o homem do andar de baixo, o inquilino neurótico de esquina, conseguimos prolongar o tempo de aluguel daquele apartamento que cheirava a restos de cigarro, restos de anfetamina, restos de uma juventude. Da varanda, se podia ver a extensão de todo aquele suburbio periférico. Se existisse algum Deus no inferno, seria como agente se sentia, vendo tudo lá de cima, com nosso cigarro na mão. A pressa, as angústias, o medo, o desespero, a humanidade. Tudo redundante.

Um comentário:

  1. morena,
    suas palavras dão um livro. um livro dos bons; e eu me apaixono cada vez mais pelo que voce escreve.

    fica a dica.
    gosto de você por demais.
    beijos

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