segunda-feira, 24 de março de 2008

Tabuada.

Era começo de tarde ensolarada de uma quinta-feira melancólica. Acordando, ou pelo menos tentando abrir os olhos, me flagrei esparramada naquele sofá corroído e roído. Tudo rodava a minha volta, uma, duas, cinco vezes. É, ainda estava bêbada mais uma vez. Me apoiei no braço do sofá e tentei me levantar, uma, duas, cinco vezes. É, pegar um cigarro nunca havia sido tão difícil. Em uma daquelas rotações da sala, pude notar Jullie desmaiada no chão da cozinha, semi nua, abraçando uma garrafa de destilado(que a essa altura, pela falta de dinheiro, era apena um destilado qualquer) e depois de uns cinco minutos gravitacionais, consegui me levantar e pegar um cigarro. Ao abrir a porta do meu quarto, me deparei com uma, duas...cinco pessoas dormindo na minha cama, pessoas estas que até então eu não lembrava de ter conhecido. Fechei a porta, e fiquei imaginando quantas poderiam haver no quarto de Jullie. Sapatos, meias, bitucas, copos, agulhas, garrafas, ruídos, risos,comprimidos. Somando cada um desses, poderia se contar uma legião. E se multiplicasse, poderia ainda haver uma nação de jovens sem futuro. Não quis somar, e muito menos multiplicar. Peguei o maço de cigarro, o resto do dinheiro que me restava, metade de uma das múltiplas garrafas que se encontravam esparramadas no chão da cozinha e escrevi um recado para Jullie(também esparramada no chão da cozinha, por sinal) na parede esquerda da sala, o primeiro lugar(e o primeiro lado) que ela olharia quando acordasse, caso ela não gravitasse como eu, claro.

Preciso de sexo. Volto quando o fizer(e lembrar de ter feito).
Não me espere para o jantar, café da manhã ou almoço.
Tragos de amor e whisky,
Lorena.

15/07/1977

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